A Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic) revelou que o percentual de endividamento das famílias do país voltou a cair em julho. Essa é a primeira vez desde fevereiro que o número de brasileiros com débitos atrasados no país recua em relação ao mês anterior.
Segundo a Peic, 78,5% das famílias do país relataram ter débitos a vencer em julho deste ano. Esse percentual ficou 0,3 ponto percentual (p.p.) abaixo do nível observado em junho (78,8%), sinalizando uma leve redução da quantidade de pessoas sofrendo com dívidas e contas atrasadas no país.
Além de ter caído em relação ao mês anterior, o levantamento revelou que o endividamento recuou ainda mais na base anual, caindo 0,7 p.p. em relação a julho de 2023.
A propósito, a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), responsável pela Peic, divulgou a pesquisa no início deste mês.
População brasileira se preocupa com dívidas
De acordo com o presidente do sistema CNC-Sesc-Senac, José Roberto Tadros, o nível elevado de endividamento no país não é um indicativo negativo. “Ele pode refletir maior acesso a recursos financeiros para consumir, aquecendo o comércio e, consecutivamente, a economia brasileira“, explicou.
Contudo, Tadros citou a queda de 0,2% da Intenção de Consumo das Famílias, indicador também apurado pela CNC. Em resumo, esse resultado demonstra o aumento da cautela dos brasileiros em relação ao nível atual de dívidas.
“A preocupação começa quando o consumidor perde a capacidade de pagar as dívidas em dia e acaba sem acesso a linhas de crédito, além de enfrentar altas taxas de juros que o descapitalizam ainda mais“, disse.
Endividamento cai em três faixas de renda
A CNC revelou que o endividamento caiu em três das quatro faixas de renda pesquisadas em julho. Veja os percentuais de pessoas endividadas em cada uma delas:
- Renda de 0 a 3 salários mínimos: 81,0%;
- Renda de 3 a 5 salários mínimos: 79,6%;
- Renda de 5 a 10 salários mínimos: 76,7%;
- Renda superior a 10 salários mínimos: 69,8%.
No mês passado, o percentual de débitos cresceu apenas para as famílias que tinham uma renda de 5 a 10 salários mínimos (0,5 ponto percentual).
Por outro lado, o percentual de débitos caiu nas demais faixas de renda em julho. O maior recuo foi registrado pelas famílias com renda de 3 a 5 salários mínimos (-0,5 p.p.) e superior a 10 salários (-0,5 p.p.), seguidas pelas famílias com renda de até três salários (-0,3 p.p.).
Cartão de crédito impulsiona débitos no país
A Peic também revelou quais foram os principais tipos de débitos dos consumidores do país em julho. Veja abaixo os percentuais registrados:
- Cartão de crédito: 86,0%;
- Carnês: 15,7%;
- Crédito pessoal: 10,6%;
- Financiamento de casa: 9,1%;
- Financiamento de carro: 8,4%;
- Crédito consignado: 5,6%;
- Cheque especial: 3,7%;
- Outras dívidas: 2,6%;
- Cheque pré-datado: 0,6%.
Cabe salientar que, na comparação com julho de 2023, o percentual de pessoas com débitos no cartão de crédito se manteve praticamente estável, subindo 0,1 p.p. no país e seguindo muito elevado no país.
Da mesma forma, os débitos em crédito pessoal (1,2 p.p.), financiamento de casa (1,4 p.p.), financiamento de carro (0,5 p.p.), crédito consignado (0,5 p.p.) e cheque pré-datado (0,1 p.p.) também cresceram em um ano.
Por outro lado, os débitos nas seguintes modalidades encolheram em relação a julho de 2023: cheque especial (-1,0 p.p.) e cheque especial (-0,4 p.p.). Já o percentual com outras dívidas não teve alteração.
Inadimplência fica estável em julho
Embora o endividamento tenha recuado em julho, o número de famílias inadimplentes ficou estável no país. Segundo os dados da Peic, quase três em cada dez famílias estavam com dívidas atrasadas no país.
A taxa permaneceu em 28,8% no mês passado, mesmo percentual que o número registrado em junho. Na comparação com julho de 2023, o percentual encolheu 0,8 p.p., visto que, naquele mês, havia 29,6% de famílias inadimplentes no país.
Vale destacar que, apesar da estabilidade nos números, a pesquisa indicou que houve aumento da inadimplência em relação aos atrasos superiores a 90 dias.
“O percentual de famílias com dívidas em atraso por mais de 90 dias teve um incremento de 0,3 p.p. em relação ao mês anterior, chegando a 47,9% do total de endividados em julho deste ano, o maior percentual desde novembro de 2023, revelando que, apesar de não ter tido aumento do nível de contas atrasadas, esses atrasos estão perdurando por mais tempo“, informou a CNC.
Por fim, a CNC projeta queda do endividamento nos próximos dois meses, mas prevê aumento do indicador nos últimos meses do ano, chegando a 78,4% em dezembro. Por sua vez, a inadimplência também deve aumentar ao longo do ano, encerrando 2024 em 29,5%.