O Federal Reserve (Fed), banco central dos Estados Unidos, manteve inalterada a taxa de juros de referência do país. Nesta semana, a entidade divulgou a sua decisão sobre os novos rumos da política monetária adotada no país, e manteve a taxa no intervalo de 5,25% a 5,50% ao ano, assim como aconteceu nas últimas reuniões do banco.
A decisão foi unânime e veio em linha com as projeções do mercado, que acreditava na manutenção da taxa. Aliás, vale destacar que os juros nos Estados Unidos continuam no maior patamar desde 2001, ou seja, em 23 anos. Isso é muito negativo para a população, que sofre com a redução do poder de compra.
Para quem não sabe, os juros elevam o custo de vida no país, pois o crédito fica mais caro. Isso não acontece apenas nos Estados Unidos, mas em todos os países cuja taxa se encontra elevada, como no Brasil, apesar das recentes reduções. Aliás, o Banco Central do Brasil vai se reunir na próxima semana para definir a nova taxa Selic do país.
De acordo com economistas, os juros elevados são um “remédio amargo” necessário para conter a inflação. Por falar nisso, o Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) se pronunciou em relação à decisão de manter a taxa estável.
“O Comitê não espera que seja apropriado reduzir o intervalo da meta até que tenha ganhado maior confiança de que a inflação está a evoluir de forma sustentável para 2%. Além disso, o Comitê continuará a reduzir as suas participações em títulos do Tesouro e dívida de agências e títulos garantidos por hipotecas“, informou o Fomc.
Taxa de juros deve ter apenas um corte em 2024
De acordo com o CME FedWatch Tool, ferramenta que mostra as probabilidades de redução dos juros nos Estados Unidos, o Federal Reserve só deverá reduzir a taxa nos últimos meses do ano. Em suma, a expectativa é que haja apenas um corte em 2024.
Para a reunião que ocorreu nesta semana, a probabilidade de manutenção dos juros era de 99,9%, e foi justamente isso o que aconteceu. As chances de uma redução na taxa só ficam maiores em setembro, com a ferramenta indicando que há 61,3% de chance de corte dos juros na maior economia do planeta.
Embora a inflação norte-americana esteja mais branda, impactada pela taxa elevada de juros, o mercado de trabalho dos EUA segue aquecido. Em maio, o país criou 272 mil postos de trabalho, número bem maior que o esperado pelo mercado (185 mil). Da mesma forma, os ganhos médios por hora de trabalho também superaram as previsões de economistas, crescendo 4,1%, acima dos 3,9% esperados.
Por outro lado, a taxa de desemprego subiu de 3,9% para 4% em maio. Esse resultado pode evidenciar que o país não precisa mais manter os juros em patamar tão elevado, mas os outros números, que estão bastante positivos, indicam o contrário. Isso porque, quanto mais forte o mercado de trabalho estiver, mais gastos a população tende a realizar, e isso pressiona a inflação no país.
Como a decisão do Fed impacta o Brasil?
A decisão do Fed de manter os juros estáveis deverá afetar todo o planeta. No caso do Brasil, o que mais deverá impactar a vida da população é o aumento dos preços dos produtos importados.
Em resumo, quanto mais altos estiverem os juros nos EUA, mais rentáveis ficam os ativos relacionados ao governo norte-americano. Dessa forma, os investimentos estrangeiros tendem a crescer no país, fortalecendo o dólar em detrimento de outras moedas.
Os países emergentes, como o Brasil, acabam sofrendo, porque os investidores alocam seu dinheiro nos EUA, fortalecendo o dólar, piorando a taxa de câmbio aqui. Com isso, a inflação nacional acaba pressionada, afetando os preços dos produtos e serviços.
A saber, a cotação internacional de bens e serviços é feita em dólar, ou seja, tudo o que vier de fora do Brasil continuará caro. Aliás, nem todos devem saber, mas diversos produtos consumidos diariamente no Brasil vêm do exterior, como o trigo, usado em pães, bolos, massas e biscoitos. Estudos revelam que entre 50% e 60% do trigo consumido no Brasil vem do exterior.
Também não há como esquecer os combustíveis. Em síntese, a política de preços da Petrobras leva em consideração a cotação internacional do barril de petróleo e as oscilações do dólar. Assim, quanto mais cara estiver a moeda americana, maiores os riscos de alta dos combustíveis no país.
Além disso, o dólar mais elevado encarece a dívida pública do Brasil e pressiona o BC brasileiro a também manter os juros elevados no Brasil. Isso porque, mesmo com uma inflação mais baixa, uma redução nos juros brasileiros pode fortalecer o dólar e impulsionar novamente a inflação no país.