A caderneta de poupança teve uma retirada líquida de R$ 1,142 bilhão em abril de 2024. Isso quer dizer que a quantidade de saques superou de maneira significativa as captações da caderneta no quarto mês deste ano.
Nos últimos 13 meses, as retiradas superaram as captações da poupança em 10 ocasiões. A última vez que os depósitos superaram os saques foi em março, quando o resultado líquido ficou em R$ 1,339 bilhão. Isso quer dizer que a retirada líquida de abril eliminou quase toda a captação observada no mês anterior.
Veja abaixo a trajetória do saldo da caderneta nos últimos meses:
- Setembro: retirada de R$ 5,83 bilhões;
- Outubro: retirada de R$ 12,16 bilhões;
- Novembro: retirada de R$ 3,30 bilhões;
- Dezembro: captação de R$ 13,77 bilhões;
- Janeiro: retirada de R$ 20,15 bilhões;
- Fevereiro: retirada de R$ 3,82 bilhões;
- Março: captação de R$ 1,34 bilhão;
- Abril: retirada de R$ 1,14 bilhão.
A saber, os depósitos somaram R$ 353,973 bilhões em abril deste ano, enquanto os saques totalizaram R$ 355,115 bilhões. Ao subtrair estes valores, o saldo da poupança voltou a ficar negativo.
Entretanto, vale destacar que o número foi bem menor que o registrado em janeiro, quando a retirada líquida chegou a R$ 20,149 bilhões. Já na comparação com fevereiro, a redução foi bem menos intensa, visto que, no segundo mês deste ano, os saques líquidos somaram R$ 3,82 bilhões.
Já na comparação com abril de 2023, a caderneta apresentou um resultado mais positivo. Isso porque, no quarto mês do ano passado, a retirada líquida somou R$ 6,251 bilhões, resultado 5,5 vezes maior que o resultado observado em abril deste ano.
Saques chegam a R$ 23,77 bilhões em 2024
Com o acréscimo do resultado de abril, a retirada líquida da poupança acumulada em 2024 chegou a R$ 23,775 bilhões. Em resumo, isso reflete fortemente a fuga dos brasileiros da caderneta, que já deixou de ser sinônimo de rentabilidade.
Cabe salientar que os valores apresentados são nominais, ou seja, não há atualização pela inflação, mas apenas a divulgação dos números referentes aos depósitos e saques, segundo o Banco Central (BC), que é responsável pela divulgação dos dados.
Nos quatro primeiros meses de 2024, as pessoas depositaram R$ 1.323,096 trilhão na caderneta da poupança. Por sua vez, os saques totalizaram R$ 1.346,871 trilhão, ou seja, superaram em R$ 23,775 bilhões os depósitos.
Entenda a saída líquida da poupança em 2024
Os saques líquidos da poupança nos primeiros meses do ano costumam ocorrer frequentemente devido ao aumento de despesas tradicionais, como Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) e Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotores (IPVA).
Além disso, as famílias brasileiras também costumam gastar com matrícula e material escolar nos primeiros meses do ano. Fevereiro ainda pode ficar marcado por pagamento de compras parceladas do final do ano passado ou de viagens de férias.
Tudo isso ajuda a impulsionar os saques da caderneta, visto que as pessoas buscam recursos para honrar os compromissos que possuem. Com isso, há uma redução expressiva dos depósitos na caderneta, o que explica a saída líquida no início deste ano.
Com o acréscimo do resultado de abril, o volume total aplicado na poupança somou R$ 979,82 bilhões. Em síntese, a baixa rentabilidade da caderneta também ajuda a explicar a retirada líquida observada em 2024.
Cenário atual do Brasil
Os resultados de abril refletem o cenário atual do Brasil. Segundo o BC, o endividamento das famílias com bancos chegou a 48% em dezembro do ano passado, no acumulado dos últimos 12 meses
Além disso, a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), realizada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), revelou que 78,1% da população estava endividada no país em março.
Por sua vez, a taxa de inadimplência atingiu 28,6% das famílias do país no mês passado. Em suma, há alguns fatores que propiciam o aumento da inadimplência entre os consumidores, como manter mais de um cartão de crédito e não se atentar à própria saúde financeira e às datas de pagamento das contas.
Diante desse cenário, muita gente acaba sacando o dinheiro que tem guardado na poupança para pagar contas e se livrar das dívidas, ou pelo menos reduzi-las.
Ao mesmo tempo, a redução da taxa de juros no país também ajuda a aumentar os saques da poupança. Quanto mais altos os juros estiverem, maior tende a ser o rendimento da caderneta. Entretanto, o BC já cortou em 3 pontos percentuais a taxa Selic nos últimos meses, e outros investimentos passaram a oferecer retornos bem mais interessantes que a poupança.