A caderneta de poupança registrou uma entrada líquida de R$ 1,339 bilhão em março de 2024. Isso quer dizer que o volume financeiro dos depósitos superou de maneira significativa os saques da caderneta no terceiro mês deste ano.
O resultado foi bastante peculiar, visto que interrompeu uma sequência de 14 meses consecutivos de retirada líquida da poupança. Entre janeiro de 2023 e fevereiro deste ano, os saques superaram os depósitos no investimento mais famoso do país em todos estes meses.
Essa é a primeira vez nos últimos quatro anos que o mês de março registra mais captações que retiradas na poupança. Veja abaixo a trajetória do saldo da caderneta nos meses de março dos últimos anos:
- 2017: retirada de R$ 5,00 bilhões;
- 2018: captação de R$ 3,98 bilhões;
- 2019: captação de R$ 1,85 bilhão;
- 2020: captação de R$ 12,17 bilhões;
- 2021: retirada de R$ 3,52 bilhões;
- 2022: retirada de R$ 15,36 bilhões;
- 2023: retirada de R$ 6,09 bilhões;
- 2024: captação de R$ 1,34 bilhão.
A saber, os depósitos somaram R$ 324,719 bilhões em março deste ano, enquanto os saques totalizaram R$ 323,380 bilhões. Ao subtrair estes valores, o saldo da poupança ficou positivo pela primeira vez desde o final de 2022.
Saques chegam a R$ 22,6 bilhões no trimestre
Embora o resultado de março tenha ficado positivo, os saques na poupança predominaram no primeiro trimestre de 2024. Com o acréscimo do resultado de março, o saldo trimestral ficou um pouco menos negativo, mas ainda refletindo fortemente a fuga dos brasileiros da caderneta.
Veja o saldo da poupança nos três primeiros meses de 2024:
- Janeiro: retirada de R$ 20,148 bilhões;
- Fevereiro: retirada de R$ 3,824 bilhões;
- Março: captação de R$ 1,339 bilhão.
Vale destacar que, apesar da retirada líquida expressiva observada em janeiro, os saques líquidos em janeiro de 2023 foram ainda maiores (R$ 33,63 bilhões). Já a de fevereiro foi bem menor que a do mesmo período de 2023 (R$ 11,515 bilhões), que teve a maior retirada líquida da série histórica para meses de fevereiro.
A propósito, os valores são nominais, ou seja, não há atualização pela inflação, mas apenas a divulgação dos números referentes aos depósitos e saques, segundo o Banco Central (BC), que é responsável pela divulgação dos dados.
No primeiro trimestre de 2024, as pessoas depositaram R$ 969,123 bilhões na caderneta da poupança. Por sua vez, os saques totalizaram R$ 991,756 bilhões, ou seja, superaram em R$ 22,633 bilhões os depósitos.
Entenda a saída líquida da poupança no início do ano
Os saques líquidos da poupança nos primeiros meses do ano ocorrem devido ao aumento de despesas tradicionais, como Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) e Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotores (IPVA).
Além disso, as famílias brasileiras também costumam gastar com matrícula e material escolar nos primeiros meses do ano. Fevereiro ainda pode ficar marcado por pagamento de compras parceladas do final do ano passado ou de viagens de férias.
Tudo isso ajuda a impulsionar os saques da caderneta, visto que as pessoas buscam recursos para honrar os compromissos que possuem. Com isso, há uma redução expressiva dos depósitos na caderneta, o que explica a saída líquida no início deste ano. Já em março, os números geralmente são mais positivos
Com o acréscimo do resultado do mês passado, o volume total aplicado na poupança somou R$ 975,769 bilhões. Em síntese, a baixa rentabilidade da caderneta também ajuda a explicar a retirada líquida observada em 2023 e nos dois primeiros meses de 2024.
Cenário atual do Brasil
Os resultados dos últimos meses refletem o cenário atual do Brasil. Segundo o BC, o endividamento das famílias com bancos chegou a 48% em dezembro do ano passado, no acumulado dos últimos 12 meses
Além disso, a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), realizada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), revelou que 78,1% da população estava endividada no país em março.
Por sua vez, a taxa de inadimplência atingiu 28,6% das famílias do país no mês passado. Em suma, há alguns fatores que propiciam o aumento da inadimplência entre os consumidores, como manter mais de um cartão de crédito e não se atentar à própria saúde financeira e às datas de pagamento das contas.
Diante desse cenário, muita gente acaba sacando o dinheiro que tem guardado na poupança para pagar contas e se livrar das dívidas, ou pelo menos reduzi-las.
Ao mesmo tempo, a redução da taxa de juros no país também ajuda a aumentar os saques da poupança. Quanto mais altos os juros estiverem, maior tende a ser o rendimento da caderneta. Entretanto, o BC já cortou em 3,0 pontos percentuais a taxa Selic nos últimos meses, e outros investimentos passaram a oferecer retornos bem mais interessantes que a poupança.