A intenção de consumo das famílias não está conseguindo se manter tão expressiva quanto no final de 2023. As famílias do país ainda se mostram dispostas a manterem seus hábitos de consumo em 2024, mas o ímpeto está bem mais moderado que antes, refletindo a situação atual da economia brasileira.
Em março deste ano, a Intenção de Consumo das Famílias (ICF) caiu pelo quarto mês seguido na comparação com fevereiro (-0,8%). Com isso, o indicador caiu para 104,1 pontos, após ajuste sazonal. A tendência de queda continua acontecendo, mas os recuos não estão intensos. Ainda assim, vale destacar que o recuo de março foi o maior dos últimos quatro meses.
Apesar das recentes quedas, o indicador segue acima da marca de 100 pontos, que separa o otimismo e o pessimismo. Em suma, taxas maiores que essa marca indicam que a intenção de consumo das famílias está positiva, na zona de otimismo. Por outro lado, dados inferiores a 100 pontos refletem pessimismo dos consumidores.
Cabe salientar que o ICF vem se mantendo acima de 100 pontos nos últimos meses, algo que não era visto há anos. A saber, antes de 2023, o indicador havia chegado à zona de otimismo apenas em 2015, e isso voltou a acontecer em agosto de 2023, após um intervalo de mais de oito anos, e vem se mantendo positivo desde então.
Todos esses dados fazem parte do levantamento realizado pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). Em agosto, os consumidores se mostraram ainda mais otimistas com a recuperação econômica do Brasil neste ano, e isso se refletiu na variação do ICF.
Inflação cresce e endividamento segue elevado no país
Segundo o levantamento, a melhora dos dados relacionados à inflação ajudou a impulsionar a intenção de consumo dos brasileiros nos últimos meses. Entretanto, a taxa inflacionária controlada não está conseguindo limitar totalmente a queda do ICF em 2024.
Em fevereiro, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu 0,83% em relação a janeiro. A variação acelerou em relação ao mês anterior (0,42%), com destaque para o grupo educação, pressionado pelas altas que habitualmente acontecem no início do ano, com os reajustes nos preços.
Vale destacar que o IPCA é a inflação oficial do Brasil, ou seja, é o termo que se refere ao aumento generalizado dos preços de produtos e serviços. Como o indicador acelerou no mês passado, houve a sinalização de queda na intenção de consumo das famílias.
Além disso, a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), realizada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), revelou que 77,9% das famílias do país possuíam alguma dívida em fevereiro deste ano.
Veja detalhes da queda da intenção de consumo em março
O indicador de Intenção de Consumo das Famílias (ICF) possui sete componentes. Em março, todos eles registraram taxas negativas, puxando o resultado mensal do indicador para baixo. Confira abaixo os resultados percentuais mensais:
- Momento para duráveis: -2,2%;
- Emprego atual: -0,9%;
- Acesso ao crédito: -0,7%;
- Perspectiva de consumo: -0,5%;
- Perspectiva profissional: -0,4%;
- Renda atual: -0,3%;
- Nível de consumo atual: -0,3%.
A CNC explicou que a intenção de consumo das famílias segue em queda no país, pois “está atrelada ao perfil do mercado de crédito, que é amplamente utilizado para as famílias manterem seu padrão de consumo”.
“As melhores taxas de juros para as pessoas físicas, alcançando o menor patamar em janeiro deste ano desde junho de 2022 (52,4%), estão sendo acompanhadas pela menor inadimplência dos consumidores (5,5%), retornando ao nível de julho de 2022”, acrescentou.
Apesar destes fatores positivos, o saldo da carteira de crédito das pessoas vem recuando, indicando redução da oferta desses recursos. “Mesmo com as famílias conseguindo arcar com suas dívidas atrasadas, as instituições financeiras encontram-se mais cautelosas no momento de conceder empréstimos, assim como os consumidores estão aproveitando para ajustar seus orçamentos, em vez de incrementar seu endividamento“, informou a CNC.
Emprego atual segue com a taxa mais elevada
Cabe salientar que, entre os sete componentes, quatro deles apresentaram taxas superiores a 100 pontos em março, sinalizando o otimismo dos consumidores em relação a estes índices:
- Emprego atual: 126,2 pontos;
- Renda atual: 124,0 pontos;
- Perspectiva profissional: 115,8 pontos;
- Perspectiva de consumo: 108,3 pontos.
Por outro lado, as demais taxas permaneceram na zona de pessimismo, resultado intensificado em março com a queda dos indicadores. Enquanto os componentes de acesso ao crédito (94,6 pontos) e nível de consumo atual (89,9 pontos) estão com taxas um pouco próximas de 100 pontos, a situação mais crítica continua com o componente momento para duráveis (69,9 pontos).