A caderneta de poupança teve uma retirada líquida de R$ 3,824 bilhões em fevereiro de 2024. Isso quer dizer que a quantidade de saques superou de maneira significativa as captações da caderneta no segundo mês deste ano. Esse foi o 14º mês consecutivo cujos saques superaram os depósitos no investimento mais famoso do país.
Entretanto, vale destacar que o número foi bem menor que o registrado em janeiro, quando a retirada líquida chegou a R$ 20,149 bilhões. Já na comparação com fevereiro de 2023, a redução também foi intensa, visto que, no segundo mês do ano passado, as captações somaram R$ 11,515 bilhões.
Em fevereiro deste ano, os depósitos somaram R$ 312,138 bilhões, enquanto os saques totalizaram R$ 315,961 bilhões. Ao subtrair estes valores, o saldo da poupança ficou negativo, como vem acontecendo há mais de um ano no país.
Saques chegam a R$ 24 bilhões no bimestre
Em resumo, a retirada líquida observada em fevereiro de 2023 foi a maior para este período desde o início da série histórica, em janeiro de 1995. Logo, o resultado deste mês em 2024 pode ser visto como algo positivo, uma vez que ficou distante do recorde registrado no ano passado.
A propósito, os valores são nominais, ou seja, não há atualização pela inflação, mas apenas a divulgação dos números referentes aos depósitos e saques, segundo o Banco Central (BC), que é responsável pela divulgação dos dados.
No primeiro bimestre de 2024, as pessoas depositaram R$ 644,404 bilhões na caderneta da poupança. Por sua vez, os saques totalizaram R$ 668,376 bilhões, ou seja, superaram em R$ 23,972 bilhões os depósitos.
A saber, o número é bem menor que o observado no mesmo período do ano passado, quando os brasileiros retiraram mais de R$ 45 bilhões da caderneta entre janeiro e fevereiro, valor recorde para o primeiro bimestre de todos os anos.
Entenda a saída líquida da poupança no início do ano
Os saques líquidos da poupança nos primeiros meses do ano ocorrem devido ao aumento de despesas tradicionais, como Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) e Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotores (IPVA).
Além disso, as famílias brasileiras também costumam gastar com matrícula e material escolar nos primeiros meses do ano. Fevereiro ainda pode ficar marcado por pagamento de compras parceladas do final do ano passado ou de viagens de férias.
Tudo isso ajuda a impulsionar os saques da caderneta, visto que as pessoas buscam recursos para honrar os compromissos que possuem. Com isso, há uma redução expressiva dos depósitos na caderneta, o que explica a saída líquida no início deste ano.
Com o acréscimo do resultado de fevereiro, o volume total aplicado na poupança somou R$ 969,557 bilhões. Em síntese, a baixa rentabilidade da caderneta também ajuda a explicar a retirada líquida observada em fevereiro deste ano.
Cenário atual do Brasil
Os resultados de fevereiro refletem o cenário atual do Brasil. Segundo o BC, o endividamento das famílias com bancos chegou a 48% em dezembro do ano passado, no acumulado dos últimos 12 meses
Além disso, a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), realizada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), revelou que 77,9% da população estava endividada no país em fevereiro.
Por sua vez, a taxa de inadimplência atingiu 28,1% das famílias do país no mês passado. Em suma, há alguns fatores que propiciam o aumento da inadimplência entre os consumidores, como manter mais de um cartão de crédito e não se atentar à própria saúde financeira e às datas de pagamento das contas.
Diante desse cenário, muita gente acaba sacando o dinheiro que tem guardado na poupança para pagar contas e se livrar das dívidas, ou pelo menos reduzi-las.
Ao mesmo tempo, a redução da taxa de juros no país também ajuda a aumentar os saques da poupança. Quanto mais altos os juros estiverem, maior tende a ser o rendimento da caderneta. Entretanto, o BC já cortou em 2,5 pontos percentuais a taxa Selic nos últimos meses, e outros investimentos passaram a oferecer retornos bem mais interessantes que a poupança.
Retiradas da poupança estão mais comuns
O ano de 2023 ficou marcado pelos saques expressivos na poupança. Os brasileiros não estavam dispostos a deixar seu dinheiro na caderneta e, entre janeiro e dezembro, a retirada líquida somou R$ 87,819 bilhões.
Vale destacar que 2023 foi o terceiro ano seguido cujos saques superaram os depósitos na caderneta. A última vez que ocorreu o contrário e as pessoas alocaram mais dinheiro na poupança do que retiraram foi em 2020, ano da pandemia da Covid-19.
Esse resultado mostra que a quantidade de saques superou de maneira significativa as captações da caderneta em 2023. Entretanto, vale destacar que, apesar do volume expressivo, o resultado reflete uma leve melhora em relação a 2022.
Em suma, a retirada líquida da caderneta de poupança chegou a impressionante marca de R$ 103,237 bilhões em 2022, maior volume de saques anuais da série histórica do BC, que teve início em 1995.
Confira abaixo os resultados líquidos dos últimos anos da caderneta de poupança:
- 2024: Retirada líquida de R$ 23,972 bilhões (janeiro e fevereiro);
- 2023: Retirada líquida de R$ 87,819 bilhões;
- 2022: Retirada líquida de R$ 103,237 bilhões;
- 2021: Retirada líquida de R$ 35,496 bilhões;
- 2020: Depósitos de R$ 166,309 bilhões;
- 2019: Depósitos de R$ 13,327 bilhões;
- 2018: Depósitos de R$ 38,260 bilhões;
- 2017: Depósitos de R$ 17,126 bilhões;
- 2016: Retirada líquida de R$ 40,701 bilhões;
- 2015: Retirada líquida de R$ 53,567 bilhões.
Nos últimos nove anos, os depósitos superaram os saques em quatro ocasiões, entre 2017 e 2020. No entanto, nos demais anos, os saques predominaram, superando significativamente o volume financeiro alocado na caderneta de poupança.