As famílias do país continuam se mostrando dispostas a manterem seus hábitos de consumo em 2024, mas o ímpeto está bem mais moderado que antes, refletindo a situação atual da economia brasileira.
Em janeiro deste ano, a Intenção de Consumo das Famílias (ICF) caiu pelo terceiro mês seguido na comparação com dezembro de 2023. Com isso, recuou para 105,7 pontos, após ajuste sazonal. A tendência de queda continua acontecendo, mas os recuos não estão intensos.
No primeiro mês de 2024, o indicador seguiu acima da marca de 100 pontos, que separa o otimismo e o pessimismo. Em suma, taxas maiores que essa marca indicam que a intenção de consumo das famílias está positiva, na zona de otimismo. Por outro lado, dados inferiores a 100 pontos refletem pessimismo dos consumidores.
Cabe salientar que o ICF vem se mantendo acima de 100 pontos nos últimos meses, algo que não era visto há anos. A saber, antes de 2023, o indicador havia chegado à zona de otimismo apenas em 2015, e isso voltou a acontecer em agosto de 2023, após um intervalo de mais de oito anos, e vem se mantendo positivo desde então.
Todos esses dados fazem parte do levantamento realizado pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). Em agosto, os consumidores se mostraram ainda mais otimistas com a recuperação econômica do Brasil neste ano, e isso se refletiu na variação do ICF.
Inflação controlada não impulsiona intenção de consumo
Segundo o levantamento, a melhora dos dados relacionados à inflação ajudou a impulsionar a intenção de consumo dos brasileiros nos últimos meses. Entretanto, a taxa inflacionária controlada não está conseguindo limitar totalmente a queda do ICF em 2024.
Em janeiro, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu 0,42% em relação a dezembro. A variação desacelerou em relação ao mês anterior (0,56%), mas os preços de alguns itens, como alimentos e bebidas, dispararam em janeiro.
Além disso, a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), realizada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), revelou que 78,1% das famílias do país possuíam alguma dívida em janeiro deste ano.
“Sabemos que a preocupação das famílias em honrar suas dívidas é uma questão central nos lares brasileiros, sobretudo aqueles de média e baixa rendas. Mesmo assim, fevereiro trouxe ganhos importantes para a economia brasileira, mostrando que há condições favoráveis ao consumo“, explicou o presidente da CNC, José Roberto Tadros.
Vale destacar que o IPCA é a inflação oficial do Brasil, ou seja, é o termo que se refere ao aumento generalizado dos preços de produtos e serviços.
Veja detalhes do desempenho do ICF em janeiro
O indicador de Intenção de Consumo das Famílias (ICF) possui sete componentes. Em janeiro, seis deles registraram taxas negativas, puxando o resultado mensal do indicador para baixo. Confira abaixo os crescimentos percentuais mensais:
- Renda atual: 0,3%;
- Acesso ao crédito: -0,3%;
- Emprego atual: -0,5%;
- Nível de consumo atual: -0,6%;
- Perspectiva de consumo: -0,7%;
- Momento para duráveis: -1,1%;
- Perspectiva profissional: -1,6%.
A CNC explicou que o fato de o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) estar mais baixo e a inflação mais controlada, o índice que mede a satisfação em relação à renda atual conseguiu subir no mês, mas o componente foi o único a conseguir avançar em janeiro.
Cabe salientar que, entre os sete componentes, quatro deles apresentaram taxas superiores a 100 pontos janeiro, sinalizando o otimismo dos consumidores em relação a estes índices:
- Emprego atual: 127,4 pontos;
- Renda atual: 124,7 pontos;
- Perspectiva profissional: 117,2 pontos;
- Perspectiva de consumo: 109,7 pontos.
Por outro lado, as demais taxas permaneceram na zona de pessimismo, resultado intensificado em janeiro com a queda dos indicadores. Enquanto os componentes de acesso ao crédito (95,1 pontos) e nível de consumo atual (91,8 pontos) estão com taxas próximas a 100 pontos, a situação mais crítica continua com o componente momento para duráveis (73,5 pontos).
Intenção de consumo é a maior para fevereiro desde 2015
A CNC revelou que a intenção de consumo das famílias atingiu o maior nível para meses de fevereiro desde 2015. Em síntese, a variação anual segue positiva, revelando recuperação do indicador em relação aos anos anteriores.
“No entanto, houve desaceleração no crescimento anual (+10,4%), tendência iniciada em setembro do ano passado. Todos os componentes sentiram esse movimento, no entanto, o Momento para Duráveis sofreu a maior redução na sua taxa, apesar de continuar apresentando o maior avanço anual de fevereiro (+34,1%)“, explicou a CNC.
A entidade disse que a queda do componente em janeiro ocorreu “devido a um aumento na proporção de famílias que consideram um mau momento para compra desses bens, uma reversão em relação à tendência de queda apresentada desde agosto de 2022“.